A primeira paralisação geral contra as medidas econômicas do governo do presidente da Argentina, Javier Milei, nesta quarta-feira (24), começou com uma caminhada rumo ao Congresso Nacional, em Buenos Aires.

Com o lema “o país não está à venda”, a paralisação geral foi convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), a maior central sindical do país, a partir do meio-dia (mesmo horário em Brasília), por um período de 12 horas. A Confederação de Trabalhadores Argentinos (CTA), segunda maior central sindical, também aderiu, assim como setores do peronismo.

O governo Milei fez bloqueios para impedir a chegada de manifestantes ao Congresso Nacional. O líder da CGT, Héctor Daer, criticou a proibição ao direito de reunião. O porta-voz presidencial, Manuel Adorni, disse que a manifestação resulta em prejuízo financeiro para “muitíssimos argentinos”.

Polícia faz bloqueio em via de Buenos Aires durante greve geral na Argentina contra as medidas de Milei — Foto: REUTERS/Agustin Marcarian
Polícia faz bloqueio em via de Buenos Aires durante greve geral na Argentina contra as medidas de Milei — Foto: REUTERS/Agustin Marcarian

Manifestantes se reúnem nas ruas de Buenos Aires em primeira paralisação geral do governo Milei nesta quarta — Foto: Tomas Cuesta/AFP
Manifestantes se reúnem nas ruas de Buenos Aires em primeira paralisação geral do governo Milei nesta quarta — Foto: Tomas Cuesta/AFP

A ministra da Segurança, Patricia Bullrich compartilhou diversos vídeos no bairro de Flores, em Buenos Aires, e criticou as manifestações: “o país não para. As máfias que param”, comentou. “Todo mundo trabalhando. O país se faz trabalhando. Tudo (está) aberto. Os comerciantes não param”, diz nos vídeos enquanto tirava fotos com a população.

Trabalhadores do transporte aéreo anunciaram adesão ao movimento, o que causou o cancelamento de voos programados, entre eles 33 voos da Gol e da Latam, o que causa impacto a turistas brasileiros e argentinos. Bancos não funcionarão. Ônibus, trens e metrô devem operar até as 19h, e então parar até a meia-noite, para que as pessoas consigam chegar às manifestações programadas. Caminhoneiros também aderiram.

Contra as medidas econômicas

O objetivo é protestar contra o “decretaço”, uma Medida Provisória que faz diversas modificações na economia e nas leis trabalhistas e outros setores, e contra a chamada lei omnibus, projeto de lei prevê “superpoderes” para Milei e prevê a privatização de empresas estatais, entre outras questões. As duas precisam de aval do Congresso —a diferença é que o “decretaço”, por ser uma Medida Provisória, já está em vigor.

A Argentina vive uma das piores crises econômicas de sua história recente: cerca de 40% da população vive na pobreza e a inflação ultrapassa os 140% anuais. O governo Milei diz que as medidas servem para tentar estabilizar a economia, equilibrar as contas públicas e reduzir a inflação.

Os manifestantes marcharam em direção ao Congresso com o objetivo de pressionar os deputados e senadores a não aprovar as leis. Ao contrário do que planejava inicialmente, o governo Milei tem cedido em alguns pontos para aprovar a lei omnibus.

A minstra Patricia Bullrich, que testou em dezembro seu “protocolo antipiquetes”, contra os bloqueios de vias, afirmou que vai voltar a empregar a mesma tática: só se permite que os manifestantes fiquem nas calçadas. Em dezembro não funcionou, e polícia e manifestantes entraram em confronto em Buenos Aires em um protesto contra as medidas de Milei.

É a primeira vez desde 2019 que a CGT promove uma paralisação geral —o último foi no governo de Mauricio Macri, de direita. A CGT não promoveu paralisações no governo de Alberto Fernandéz, de esquerda.

Reação do governo Milei

O porta-voz do governo de Milei, Manuel Adorni, disse que a população argentina é contra a paralisação e que não se sabe ao certo qual é a motivação dos grevistas. Para ele, a CGT está “do lado errado da história” e que nos últimos anos os trabalhadores perderam liberdade.

O governo afirmou que vai descontar o pagamento dos funcionários públicos que participarem da manifestação. Isso não acontecerá em todos os lugares; na província de Buenos Aires, que é governada por um político de esquerda, Axel Kicillof, os trabalhadores do Estado que pararem não terão desconto. Kicillof afirmou que vai respeitar o direito de greve.

Manifestantes em frente à residência oficial do presidente da Argentina, em Olivos, em 23 de janeiro de 2024 — Foto: Luis Robayo / AFP
Manifestantes em frente à residência oficial do presidente da Argentina, em Olivos, em 23 de janeiro de 2024 — Foto: Luis Robayo / AFP

Por G1