O público do Festival América do Sul 2025 experimentou, na noite desta sexta-feira (16), uma jornada musical com uma dobradinha de shows musicais repleto de rimas e batidas hip-hop. As sul-mato-grossenses Raíssa Carvalho (SoulRa) e Karla Coronel dividiram o palco num encontro inédito que antecedeu a apresentação do carioca Xamã.

A abertura do primeiro ato começou com 20 minutos de atraso. A proposta dos organizadores do evento de reunir as duas artistas em um único show deu a elas 20 dias corridos para combinar as suas canções e produzir o setlist, que foi aberto com a quarta música mais ouvida da SoulRa no Spotify, Lauryn Rio. Do trip hop ao drill, da MPB a cúmbia, a apresentação explodiu nuances tanto no contexto do rap como da música sul-americana. 

Apesar de contar com poucos espectadores, as cantoras conseguiram fazê-los vibrar por causa das músicas e da frequente interação, executada – principalmente – por SoulRa. Encantaram o público com palavras de alento. “Esse show é sobre vocês, para saberem como são lindos e especiais”. Foi a primeira apresentação musical da noite, o que explica a densidade do público que foi aumentando conforme o passar do tempo. 

De acordo com as artistas, aquele foi um “show charme”. Ambas disseram estar satisfeitas com o acontecimento. Para Karla, o momento foi planejado para que as músicas autorais de ambas se conectassem e conversassem com o que elas acreditam. Muitos sons tocados ali no Palco das Américas, evocavam o poder das mulheres não só de modo sutil, elogioso e concentrado, mas em tom de protesto e com a interpolação das mazelas que, agrupadas, podem enfraquecer os direitos femininos. 

SoulRa quis que a estreia da dupla imprimisse a ligação que existe entre elas. Desde a identidade latina, sul-mato-grossensse e fronteiriça – já que uma é filha de paraguaio e a outra vive há uma hora da fronteira com o Paraguai – até a “linguagem black” que compartilham por meio dos gêneros rap, r&b e soul. “A gente se encontra enquanto mulheres negras que vão fazer música urbana, vão fazer a nossa black music juntas, cada uma com a sua identidade”. 

Para homenagear as rappers negras femininas, a aposta foi em um mashup entre Tá Na Mira de Negra Li e Doo Wop de Lauryn Hill próximo ao fim do show. “A gente trouxe essa referência de mulheres negras porque são mães também, a mãe gringa e a mãe brasileira. No Mato Grosso do Sul, mulheres fazendo rap e ocupando grandes palcos ainda é muito recente. Temos consciência que estamos num privilégio, que abriram caminhos para a gente e que [para outras] ainda está sendo aberto” disse SouRa, “e acreditamos nisso” completou Karla. 

Referências

Para compor, cantar e se embeber de música, Karla Coronel afirma que a Mercedes Sosa é a sua referência hispanohablante em se tratando de América do Sul, inclusive participou do FAS, em outro momento, junto com a orquestra que leva o nome da ídola para interpretar o clássico Duerme Negrito. Milton Nascimento, “que cantou lindamente com a Sosa”, também está em sua lista. Ela apostou em suas canções de MPB como Modo Avião para apresentar a sua arte no festival internacional.

SoulRa tem vivência direta na fronteira de Porto Murtinho, onde ouvia muito reggaeton, cúmbia eletrônica e curtia os shows de Nene Malo com sua irmã. Mas a sua maior relação e referência é com a cena do hip-hop e ela tem ouvido Missmaella, rapper assunçãoense.

Por Maria Eduarda Metran