Seis anos após uma tumultuada eleição para presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) retorna ao comando do Congresso numa disputa muito mais tranquila. Valendo-se de suas maiores habilidades de negociação no bastidor, o político montou uma base de apoio com dez partidos em 2024, do PT ao PL, e chegou fortalecido para derrotar Marcos do Val (Podemos-ES), Marcos Pontes (PL-SP) e Eduardo Girão (Novo-CE). A aposta de senadores é que Alcolumbre continuará o mesmo, que não precisa falar grosso para ser pragmático e duro nas negociações, o que pode trazer dificuldades para Lula (PT).

O novo presidente teve 73 votos contra 4 votos de Marcos Pontes (PL-SP) e 4 de  Eduardo Girão (Novo-CE).

Na primeira eleição de Alcolumbre para o comando da Casa, em fevereiro de 2019, o amapaense que à época tinha 41 anos, bateu de frente com uma figura histórica da política, o senador e ex-presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL). Com apoio do governo eleito, Alcolumbre sentou-se na cadeira que Renan já havia ocupado por quatro ocasiões. O pleito foi tumultuado, com fraude na votação (havia 82 cédulas, sendo que só existem 81 senadores), “sequestro” de pastas e decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir a votação secreta.

Durante sua presidência, ajudou na aprovação da reforma da Previdência e na autonomia do Banco Central, as pautas econômicas. Mas fugiu daquelas radicais e sentou em cima, por exemplo, de pedidos de impeachment de ministros do STF. O pragmatismo de Davi foi uma das principais marcas de sua gestão. Saiu da cadeira vitorioso, algo raro, fazendo o sucessor, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que agora lhe retribuiu o apoio. Ou seja é esperado que se mantenha uma continuidade dos trabalhos que não atrapalhem os planos econômicos de Lula (PT).

Nos anos seguintes, ao voltar para o “chão do Senado”, Alcolumbre foi presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Casa. E levou consigo o pragmatismo. Bolsonaro, que ora tinha sido aliado de Davi, viu o senador sentar em cima da indicação de André Mendonça para o STF. A decisão de peitar e segurar uma votação dessas é algo raro, já que são justamente os ministros do STF que analisam processos envolvendo senadores e deputados.

Durante a transição dos governos, Alcolumbre se aproximou da gestão petista e garatiu influência. Na sua conta estão duas indicações: os ministros Waldez Góes (Integração Nacional) e Juscelino Filho (Comunicações). O primeiro, filiado ao PDT e o segundo, este sim, ao seu partido.

A partir da próxima semana, é se de esperar que ele almeje mais espaço. Uma das pastas de interesse é Minas e Energia, sob comando de Alexandre Silveira (PSD-MG), mas não há sinais de que Lula esteja disposto a fazer essa troca.

Caminho na política

Em 2019, quando se elegeu presidente do Senado, o senador estava em seu primeiro mandato, filiado ao DEM, mesmo partido do ministro-chefe da Casa Civil de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni. Considerado um membro do “baixo clero”, contou com a ajuda do governo para chegar ao cargo mais alto da Casa. Nascido em Macapá, hoje com 46 anos, o novo presidente do Senado começou curso de Ciências Econômicas no Centro de Ensino Superior do Amapá (CEAP), mas não terminou.

Sua vida política começou como vereador de Macapá, entre 2001 a 2002, e depois chegou à Câmara dos Deputados. Reelegeu-se duas vezes como deputado e em 2014, garantiu uma vaga no Senado com mandato de oito anos. Ele se afastou do posto em 2018 para concorrer ao governo do Amapá, mas derrotado, voltou ao Senado.

Por Portal Terra