A Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB) planejou colocar o ex-missionário Ricardo Lopes Dias à frente da diretoria de índios isolados da Fundação Nacional do Índio para mudar a política dessa área, mostrou fala de Edward M. Luz, filho do presidente da organização missionária, citada pelo Ministério Público do Distrito Federal em ação que quer cancelar a nomeação de Dias.
Na ação, o MP apresenta uma declaração dada por Luz na sede da Funai em Altamira (PA), em que o missionário fala claramente da indicação de Dias pela MNTB.
“Nós vamos colocar um novo presidente na CGIIRC, nós acabamos de indicar uma nova pessoa para a CGIIRC (Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato), acho que você já deve ter lido e nós vamos formalmente mudar essa política, porque nós acreditamos que por mais inteligente que ela tenha sido até agora, ela permite manipulações, nós desconfiamos de manipulações”, diz Luz.
Com mestrado em antropologia, mas expulso da Associação Brasileira de Antropologia em 2015, segundo a própria associação, por seus posicionamentos contrários à tradição antropológica, Luz é conhecido como “antropólogo dos ruralistas”.
Foi consultor da Frente Parlamentar Agropecuária durante a CPI da Funai que, dominada pela bancada, tentou indiciar indígenas, antropólogos, procuradores e integrantes da Igreja Católica por supostas fraudes nos processos de demarcação de terras e na aplicação de recursos destinados às tribos
Na sua fala na Funai de Altamira, Luz afirma que a política para os índios isolados está afetando a economia da região e defende os produtores.
“Agora, ela está afetando profundamente a economia de uma região, a vida de pessoas também, é isso que a gente queria ver, esse drama. Até pouco tempo atrás o discurso da antropologia, até porque só tinha basicamente isso pra falar, se você era antropólogo você só falava de sofrimento indígena. Hoje a ação de vocês me permite falar do sofrimento dos produtores, agricultores e é por isso que eu estou aqui”, disse.
“Enquanto a gente conseguir equilibrar isso daí, a gente vai chegar numa boa conversa”, disse ele, de acordo com a transcrição feita pelo Ministério Público.
Ex-missionário da MNTB, onde atuou por 10 anos, e antropólogo, o novo coordenador da Funai indicado pelos missionários só pôde ser nomeado depois de uma alteração no regimento interno da Funai, feita pelo presidente do órgão, Marcelo Xavier, para que pessoas de fora da administração pública pudessem ocupar o posto.